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    Morabeza cabo-verdiana - Um sentir de Mónica Sofia a partir da República Checa

    26 de novembro de 2020

    Já no novo destino, olhamos para a janela, com um olhar cheio de nostalgia. Não falamos a língua dessa nova terra e, por momentos, ainda nem sabemos onde fica o supermercado mais próximo, que por sinal, fica ao virar da esquina. No entanto, esse novo mundo continua a girar. Gira, mas por hora, gira sem nós. Se tudo segue o seu rumo habitual, já nós sentimos uma dupla ausência: a da nossa terra e da nova terra. Até minguamos diante do rio de obstáculos que nos espera, mas no nosso coração, o grito é de coragem, garra e resiliência. É assim o coração do povo cabo-verdiano.

    O nosso ser é o nosso combustível. É agarrando-nos a essa identidade, que sem mais nem menos, nos levantamos firmes e fortes e entramos em cena! Atiramo-nos de cabeça e apostamos tudo num futuro desconhecido. E assim tomamos a parte que nos cabe na nossa nova realidade. Não! A emigração não é, de todo, “la vie en rose”. Mas vamos assim mesmo, crentes porque, de onde viemos, somos sonhadores, adoramos as estrelas e carregamos no peito a coragem de quem acredita que o futuro está escrito nelas.

    É assim a nossa história. É assim a vida de emigrante. E é assim também a história de Mónica Sofia, uma das caras da emigração cabo-verdiana. Graças a uma bolsa de estudos do governo de Cabo Verde, essa crioula seguiu o caminho da terra longe para estudar Engenharia Física Tecnológica no Instituto Superior Técnico, em Lisboa (Portugal). Ao longo do curso, conheceu vários estrangeiros, no âmbito do programa Erasmus e, desejando um banho cultural diferente do luso-caboverdiano, Mónica acabou escolhendo como destino a Europa Central, onde continuou os seus estudos. Como já referido, para os cabo-verdianos os sonhos têm asas. E Mónica voou. Voou, aterrando num mar de aventuras, sonhos e oportunidades na República Checa. “Foi das melhores decisões que tomei em toda a minha vida!”, afirma, apesar das barreiras que encontrou pelo caminho: “Não foi fácil no início. A diferença cultural, o clima, as pessoas… é completamente diferente… mas fui-me adaptando, como todos os cabo-verdianos — temos uma capacidade incrível de adaptação!”

    Entre os problemas comuns da emigração (documentação, obstáculos económicos e linguísticos), Mónica teve de fazer todo um percurso até atingir os seus objetivos. Estudou Física e, atualmente estuda Corporate Finance. Em paralelo, começou a trabalhar, e uma vez que sempre gostou de moda, começou por fazer alguns trabalhos de fotografia e desfiles, acabando assim por entrar nesse mundo. Com a garra e tenacidade que nos caracterizam, enveredou-se, posteriormente para o meio empresarial, criando o seu próprio negócio, fazendo assim jus à sua formação em Corporate Finance.

    Apesar desse percurso marcante na emigração, Mónica Sofia está sempre de olhos postos em Cabo Verde. “Eu quero ver Cabo Verde crescer! Eu quero ver Cabo Verde maior porque eu acredito que nós temos essa capacidade”. A agora empresária afirma ainda: “o que eu sou é Cabo Verde!” Com esse pensamento, em 2017 criou a fundação “Naděje Cabo Verde” (esperança de Cabo Verde), com o objetivo de ajudar a sua terra natal. Em 2020, devido à crise provocada pelo Covid-19, criou também uma câmara de comércio checo-caboverdiana. Esse projeto que tem como finalidade incentivar os checos a investirem no nosso país e, simultaneamente, promover Cabo Verde na República Checa. Com essa iniciativa, Mónica Sofia ambiciona uma verdadeira representação simbólica de Cabo Verde na República Checa, isto é, a promoção da cultura cabo-verdiana.

    Definitivamente, não podemos falar de Cabo Verde sem nos referirmos à sua identidade cultural, mas também não se pode compreender essa mesma identidade sem se relacionar com a sua diáspora. Para Mónica, viver Cabo Verde é automático. ”. No seu escritório tem a bandeira de Cabo Verde e diz sentir Cabo Verde todos os dias. “É a nossa humildade. É a nossa energia positiva. É o nosso equilíbrio. Ah! Tudo me faz sentir Cabo Verde aqui. Falo com a minha família constantemente e eu sinto Cabo Verde em todo o lado. Cabo Verde está comigo… é a nossa casa!”. No entanto para sentir Cabo Verde no seu esplendor, é com dentadas em “filhós de milho”. “É a minha comida favorita de Cabo Verde. Faço quase todos os dias em casa porque eu gosto imenso disso! Eu preciso disso” — disse, entre risos.

    Cabo-verdiano! Um povo espalhado por todo o mundo. Um povo que atravessa fronteiras em busca de sonhos. Povo aventureiro, corajoso e sonhador, mas também um povo vinculado à sua pátria — o lugar onde a morabeza faz sentido. Um povo que vive e sobrevive de amor — o amor à terra. O amor por Cabo Verde.

     

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    Crônica de Fátima Fernandes
    Crioula, residente em Paris, França @fatima__fernandes_ no Instagram