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    Sabu há 40 anos a vender "pão com fígado" no Cinema do Bairro

    28 de janeiro de 2022

    Cinema do Bairro Craveiro Lopes funcionou de 1981 a 2006, com altos e baixos na afluência de público. Sabu é mulher de fibra, a única figura incontornável do Cinema do Bairro que continuou a sua lida, junto do edifício. Vende "pão com fígado" com tempero único e tornou numa referência gastronómica nos subúrbios da cidade da Praia. O Cinema transformou em Igreja. Hoje não há filmes, há culto da Igreja Católica. Até padres tornaram "fregueses" e apreciam muito o famoso "pão com fígado" da Sabú.

    Sabu é uma das mais conhecidas e carismática vendedeiras de rua da cidade da Praia. Sabu sempre no mesmo sitio, outrora sob as holofotes externo do Cinema do Bairro, e depois o sitio ficou sem movimento e sem iluminação, mas Sabú manteve com à luz de cafuca [espécie de um candeeiro alimentado pelo petróleo] e da lanterna dos telemóveis dos próprios clientes. Com o encerramento do Cinema do Bairro, em 2006, consequentemente, os clientes diminuíram, mas continuaram muitos clientes fieis dos diferentes bairros da cidade da Praia. E também, emigrantes em férias. O segredo é a qualidade dos produtos e a simpatia.

    Agora, comer "pão com fígado", sentir o tempero da Sabu, além de uma refeição, é sobretudo uma viagem a infância. Há poucos dias, fui lá, com um grupo de amigos de infância. Lembramos as vivencias e as pessoas de outrora. Eu, há muito que aparecia e até pensava que os negócios ali extinguiram completamente. Sabú tem uma memória incrível, lembra de toda gente e não lhe falta uma boa conversa, com muito humor e conselhos.

    Tem 68 anos, mas Sabu é tão humilde e extrovertida que ninguém a chama de "Dona" ou "Senhora", como é habitual nas pessoas com certa idade em Cabo Verde.

    O Cinema do Bairro Craveiro Lopes inaugurada em janeiro 1981, com filme "Sandokan". Desde do inicio o cinema foi muito popular, nos anos 80 e 90 teve muita procura e grandes enchentes, daqueles que era necessário a intervenção da Policia Militar, para restabelecer a ordem. Havia muito negócio, de vendedeiras com as suas bancas a frente do Cinema, vendia-se produtos que os cinéfilos levavam para a sala de cinema. Donetes, pasteis, bolos, sumos caseiros, mancarra, drops, sandes diversos.

    Sabu iniciou o negócio já nas obras da construção Cinema do Bairro, com a venda de pasteis para trabalhadores da obra. Com a inauguração viu tanta gente a volta do edifício do Cinema, para verem o filme, outros para passeio. Foi uma oportunidade de negócio. O pai já era açougueiro, sobretudo, com negócio de carne de porco. Sabu, então iniciou com a venda de "pão com fígado de porco". E nunca mais parou...ou melhor só parou obrigatoriamente devido ao Estado de Emergência, decretado pelo Governo, em abril de 2020. Esta paragem até a afetou a nível mental...afirma que, teve de receber assistências de psicólogo e psiquiátrico.

    Durante os "anos dourados" do Cinema do Bairro, Sabu conta que chegou a vender 18 mil escudos, num único dia. Cinema do Bairro encerrou definitivamente em 2006.

    Sabu, continuou com mesmo horário, diariamente das 18h30 às 22h00. Ela tem conversa personalizado com todos os seus clientes. "Pão com fígado" tem preços fixos, 50$00, 100$00 e 150$00. Se o cliente tiver, por exemplo só 90$00 "então fica a dever 10$00. Diz que não teve "muita escola, mas não falha nas contas porque esteve na escola Nha Mamã" [Nha Mamã, famosa em aulas de explicações para alunas do ensino primário].

    Crónica - Décio Barros