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    Slam 50: a palavra faz festa em nova casa

    26 de setembro de 2025

    Quinta-feira à noite, 25 de outubro. A cidade da Praia deixava-se embalar pelo vento morno e sem pressa. Na rampa que liga a rotunda Homem de Pedra (em Chã de Areia) a Terra Branca, um novíssimo espaço, o KA7, ainda em pré-abertura, a poesia tinha endereço certo. O Slam do SpokenWord Cabo Verde, em número redondo, o 50, regressava numa casa nova, com a certeza de que a palavra continua a ser palco e arma.

     

    O KA7 recebeu-nos com um charme vintage: luzes suaves, móveis e objetos que já faz parte da memória. Assim que abrir oficialmente, o local merece a sua visita. Copos de vinho, cerveja gelada e refrigerantes circulavam entre sorrisos e good vibes, enquanto petiscos iam abrindo o apetite para a verdadeira festa: a da voz. Em cena, os slammers (os executantes de spoken word) residentes, Edyoung Lennon, Vera Figa e Jap Pires, chamavam um a um os slammers, veteranos e estreantes, a ocupar o microfone. Também havia espaço no palco para quem não estava no cartaz, no momento "open mic". Os verbos saíam em crioulo, português, francês, inglês, e sobretudo a língua do corpo, porque no spoken word o gesto também fala.

     

    Entre os que se arriscavam pela primeira vez, estavam alguns jovens de um grupo de universitários. Estes roubava atenções: o Coletivo Cult, nascido da paixão pela poesia de um grupo de universitários. Edyoung sorria orgulhoso: "Eles têm agenda própria, uma dinâmica que só vem fortalecer o movimento." E era evidente. Cada verso deles soava como promessa de futuro.

     

    Para quem acompanha o percurso do SpokenWord Cabo Verde, o reencontro tinha um sabor agradável. Desde 2016, quando nomes como Vera Cruz, Patrick Neto e a própria Vera Figa lançaram a semente, os slams tinham residência no AQVA, em Quebra Canela. O último grande evento, o Praia Poetry Slam, tinha sido em março de 2024, no espaço Warehouse. Agora, o KA7 acolhia esta nova fase e parecia ter sido feito à medida.

     

    Durante quase três horas, o público "gingava" entre sorrisos e aplausos, com textos que afrontavam preconceito, racismo, feminismo, amor e política. Houve aplausos de pé e aquela energia que só a palavra dita com convicção provoca. O rapper Edyoung, que entrou no movimento do SpokenWord Cabo Verde, logo na segunda edição e já levou a sua voz a palcos de Poetry Slam, em Portugal e Brasil, é uma das grandes referencia no país, resumia: "Spoken word é lugar de consciência, onde a palavra não tem censura e quem fala sabe defender o que diz."

     

     

    DB