Maria José
Maria José nasceu com uma deficiência no braço esquerdo. Mas foi também com ela que nasceu uma força que se ouve. Tem 50 anos, tantos quantos o país - Cabo Verde Independente. É do Paul, o vale verdejante e de gente que, quando chega junho, bate o tambor como quem bate o coração: com fervor, com alma.
Lá, o Santo António é celebrado com fé e ritmo. E Maria, desde menina, conhece bem esse pulsar. Cresceu a ouvir o rufar dos tambores e, mais do que ouvir, aprendeu a senti-los. “Desde que me conheço por gente que toco o tambor”, diz-nos, com aquele sorriso largo que parece ser o seu estado natural.
Encontrámo-la entre os tamboreiros no Desfile Son Jon Reveltiod, em Porto Novo, concurso que junta os grupos tradicionais de São João deste concelho do sul da ilha. Estava com o grupo dos bairros de Branquinho, Chã de Camoca, Armazém e Alto Peixinho. O compasso certo dos tambores entrelaça com o bater firme dos paus. Maria, com uma engenhosidade silenciosa, contornou a limitação do braço esquerdo: prendeu o pau com uma fita elástica e, assim, manteve-se firme no ritmo, como se o corpo obedecesse à vontade da alma, e não à deficiência. Sempre a espalhar alegria daquelas que não se fingem. Aquela alegria que nasce do som que se faz com as mãos, mas que vem, lá do fundo, da alma.