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    Gamboa 2025: o roteiro do primeiro ato

    17 de maio de 2025

    Arrancou ontem a 31ª edição do Festival de Música da Gamboa, com duas baixas de peso no cartaz internacional: Victony, popular artista nigeriano com mais de 430 milhões de visualizações no YouTube, não compareceu ao primeiro dia, conforme o anuncio do cartaz, e DJ Moana, do Brasil, que estava prevista para atuar hoje, anunciou nas redes sociais que não virá a Cabo Verde. Ambos os artistas tinham sido destacados pela organização como atrações principais desta edição, mas ao que tudo indica, a sua estreia em palcos cabo-verdianos ficará para outra ocasião.


    Coube a Indira a abertura do festival. A rapper e professora de inglês subiu ao palco por volta das 23h00, acompanhada por banda, para uma atuação de 35 minutos. Conhecida pelo seu contributo para o empoderamento feminino no rap e bastante ativa nas redes sociais nesses dias por conta do seu mais recente single, "Djan Bem". A música foi o convite para o pouco público presente sair do asfalto da estrada nacional, que atravessa o recinto, e aproximar-se do palco, na "terra bufa bufa" [terra leve que levanta muito pó, em tradução livre para português].


    E diga-se de passagem, nos seus primórdios, o Festival da Gamboa acontecia na areia da praia com o mesmo nome, junto ao antigo "ponte bedjo", onde muitas crianças da cidade da Praia aprenderam a nadar. Mais tarde, mudou-se para o areal em frente à Electra. O crescimento do público levou a organização a transferir o evento para o atual espaço.


    Como já é habitual, a sexta-feira, primeiro dia do festival, sempre registou uma afluência mais fraca. Neste ano foi ainda mais notório. O recinto tinha ontem menos de um quarto da sua capacidade preenchida.


    Por volta da meia-noite, os Ferro Gaita subiram ao palco para uma viagem musical pelos sucessos do seu primeiro e marcante álbum. Com 70 minutos disponíveis, o emblemático grupo levou vários convidados em homenagem os ritmos tradicionais das ilhas de Santiago e do Fogo. Um dos momentos altos foi a atuação de Félix Lopes, artista foguense radicado nos EUA, que se juntou a frente do palco, ao Eduíno, com seu gaita, e Bino Branco, ferrinho, para interpretar o ritmo "Talaia Baxu", um dos mais emblemáticos da ilha do Fogo, que em 2022 ganhou o seu Dia Nacional, celebrado a 1 de fevereiro.


    Entre os convidados de Ferro Gaita, seguiu-se o batuku com Tareza Fernandes e o grupo Tradison di Terra. Depois, o público vibrou com "Cotxi Pó", de Mika Kutubelada, e com o desfile dos grupos de Tabanka da Praia: Tabanka da Várzea, de Txada Santo António e de Txada Grande. Com Yuka Barros vestido a rigor e a carregar a bandeira da tabanka. Natural da zona de Brasil, no bairro de Achada Santo António, na cidade da Praia, onde a tabanka tem raízes bem fincadas. Yuka é promotor de eventos e reside atualmente nos Estados Unidos. Foi um dos protagonistas desta edição do festival, tendo participado, três dias antes do evento, na conferência de imprensa de apresentação do cartaz artístico, chamando para si grandes atenções, no agenciamento de artistas para o festival.

     

    As atuações dos artistas, neste primeiro dia, foram marcadas por efeitos visuais, sobretudo chamas de fogo à frente do palco. Ainda assim, esses recursos não conseguiram animar muito a plateia.


    Apesar do festival estar marcado para as 22h00, só começou uma hora depois. Ainda assim, a organização conseguiu compensar o atraso com trocas rápidas entre atuações. Cesar Sanches foi o artista seguinte. Jovens junto ao palco cantaram todas as suas músicas com entusiasmo. A atuação foi curta, pouco mais de 30 minutos, mas enérgica. O cantor distribuiu notas de 10 dólares e até atirou peças de roupa para o público. Tentou lançar o casaco, mas um fã agarrou-o antes, obrigando a intervenção dos seguranças. Natural de Achada Fazenda, Santa Cruz, Sanches deu nas vistas ao imitar danças e músicas de Gil Semedo, emigrou para os EUA em 2011 e esteve nomeado nos CVMA 2019 como Artista Revelação.


    Cesar Sanches foi acompanhado pela banda Triu di Fogo, a mesma que deu suporte à artista seguinte, Paulinha, o que facilitou a transição em palco. A "menina da Praia" sentiu-se em casa e encantou o público com uma atuação muito aplaudida, misturando sucessos antigos e novos.


    Às 3h00 da madrugada foi a vez de Mucci, do bairro do Coqueiro, que pôs o público jovem a vibrar com as suas letras, aos gritos e sorrisos. É a terceira participação do artista no Festival da Gamboa. Mas que o artista diz sentir como a primeira vez, pois desde sempre sonhou subir este grande palco.


    O alinhamento previa Hélio Batalha como próximo, mas antes houve uma breve intervenção de Zé Grogro e Dibongo, que viralizaram no último ano com a música "Bololo", atualmente com mais de um milhão de visualizações, em 8 meses. Zé Grogro, emocionado, recordou que, nos últimos quatro anos, trabalhou na porta do festival, e agora subia ao palco principal, um verdadeiro salto e concretizar de um sonho.


    Hélio Batalha, um dos cabeças de cartaz mais aguardados, não desiludiu. Em 45 minutos, percorreu êxitos como "Final Feliz", "Fomi" e "Dexam Bua", este último cantado com a jovem Sónia Sousa, que mostrou a potência da sua voz. O encerramento da sua atuação foi em dueto com Paulinha, com quem lançou recentemente "Só Deus".


    Já passava das 5h00 quando Mito, o artista conhecido pelos nomes dos seus próprios hits, como Mito Estuda, Mitos Kaskas ou Mito Bosson, subiu ao palco, sem banda. Ficou-se a sensação de "delay" entre a voz e o playback. Encerrou a sua participação, chamando os artistas Davis e Prego Prego, este último a anunciar o seu novo nome artístico, "Babysdu", que até já está tatuado na barriga.


    MC Acondize, o "King of the Vibes", encerrou o primeiro dia. Como habitual, trouxe energia e grandes hits, mesmo perante um público mais contido. Ainda assim, conseguiu animar vários grupos de jovens junto ao palco. O dia já clareava quando, às 6h30, Acondize deu por encerrado o primeiro dia do Festival da Gamboa.


    Hoje, sábado, o segundo e último dia do festival, habitualmente com a casa mais composta. A partir das 21h50, sobem ao palco os artistas: Rahiz (cabo-verdiano nascido em Portugal, em estreia no país), Mário Lúcio Sousa com o álbum "Independance", Ineida Marta (Guiné-Bissau), Neyna, Apollo G, Garry, Bedja KP, Miguel KR, e o enceramento estará a cargo do Rods Wires, também conhecido por "Matagal", nome seus serie de hits, com mesmo nome. 

     

     

    DB