Grace Évora celebrou, na noite deste sábado, 29 de novembro, no Hangar 7, na cidade da Praia, os 50 anos de Independência de Cabo Verde e Angola com um espetáculo marcado pela cumplicidade musical entre dois países irmãos. Neste concerto, convidou o saxofonista angolano Nanutu e o guitarrista cabo-verdiano Johnny Fonseca, num encontro que resultou num concerto sublime e de forte comunhão com o público. Foram três horas de boa música. O encerramento fez-se ao som do clássico "Lolita", cantado em êxtase coletivo e coroado por longos aplausos.
O espetáculo começou, como anunciado, pontualmente às 20h29. Altura que os promotores subiram ao palco para dar as boas-vindas e sublinhar a importância do concerto. O evento foi organizado pela Cabo Verde Creative Station (CVCS), representada por Éder Xavier, e contou com o alto patrocínio do Banco BAI Cabo Verde, que celebra 17 anos no país.
Com o palco circular montado no centro do Hangar 7, o concerto assumiu um formato intimista, permitindo uma envolvência direta entre artistas e público. Grace Évora chegou a comparar a disposição do palco aos icónicos concertos de Phil Collins, seu grande ídolo, com quem partilha a rara combinação de cantar e tocar bateria simultaneamente.
Grace abriu o espetáculo percorrendo o seu vasto repertório de sucessos, conduzindo a plateia a cantar em uníssono. A banda que o acompanhou mesclou talentos de ambos os países: Gil (teclados), Jackson (bateria) e Alexandre (percussão), de Angola, e os cabo-verdianos Johnny Fonseca (guitarra), Anderson (baixo) e Vacy Chantre (coro). O músico Grace Évora, natural de São Vicente, emigrou com a familia aos 8 anos para a Holanda, hoje conhecido por Países Baixos, é muito popular em Angola, onde tem cumprido uma agenda regular de shows.
Entre músicas, do show do último sábado, o público não escondia a ansiedade por ouvir a canção "Lolita", ao que Grace respondeu, bem-humorado, dando spoiler para o encerramento em grande: "Assim que cantarmos Lolita, vamos todos para casa."
A meio do concerto, o palco pertenceu a Nanutu. Com o seu habitual estilo irreverente, o saxofonista manteve o nível alto do espetáculo. Passeou-se entre os músicos, arrancando-lhes novas dinâmicas, e deslocou-se até a plateia para espalhar a melodia doce e penetrante do seu saxofone, num dos momentos mais grandes da noite.
No último terço do concerto, todos os músicos se juntaram novamente no palco. Grace percorreu, em formato de rapsódia, temas de outros artistas cabo-verdianos, viajando entre coladeiras e funanás. Chamou ainda o seu amigo e carismático baterista Magick Santiago, que reforçou o brilho do momento da rapsódia.
Antes do final, Grace aproveitou para exaltar a qualidade dos músicos cabo-verdianos e dos PALOP e, mais uma vez, deixou críticas às opções que muitos festivais de música em Cabo Verde têm seguido recentemente.
O concerto ganhou também um sabor nostálgico quando Grace recordou a longa amizade com Johnny Fonseca, cultivada na fértil "Tchon di Holanda", onde ambos fizeram parte dos grupos Livity e Splash. Partilhou ainda a história da criação de "Bia", tema do álbum Rapaz Novo dos Livity (1993), revelando como uma melodia apresentada por Johnny serviu de base para encaixar versos que lhe haviam sido oferecidos por um primo, completados depois por Aníbal. O tema tornar-se-ia um sucesso marcante e um impulso decisivo para a sua carreira a solo.
Como prometido durante toda a noite, "Lolita" encerrou o concerto em apoteose. Grace explicou que, quando lançou o tema no seu álbum "Romance" (1999), ele e outros músicos concebiam as canções a pensar nas pistas de dança, na época, o principal termómetro de sucesso. No Hangar 7, mais de duas décadas depois, a música provou novamente o seu poder: todos cantaram, dançaram e sorriram amplamente.
Foi um grande espetáculo, marcado por qualidade musical, emoção e uma plateia que retribuiu o carinho que Grace Évora tão bem sabe transformar em música.
DB







